MÃO-DE-OBRA // Setor gerou mais de 20 mil postos formais de trabalho em quatro anos
Rosa Falcão // Diario de Pernambuco
A indústria da reciclagem é o novo motor do emprego e renda no país. Através do reaproveitamento da sucata que chega pelas mãos dos catadores, somente o setor de plásticos gerou 20 mil postos formais de trabalho em quatro anos e faturou R$ 1,8 bilhão. São 780 empresas que reprocessam o plástico e revendem para os fabricantes de brinquedos, acessórios, móveis, material de limpeza, além dos setores automotivo e de eletroeletrônicos. Enquanto o mercado de resina virgem registra crescimento de 30%, o de plástico reciclado chega a 55% no período de 2003 a 2007. Os números da pesquisa do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida) revelam o potencial do setor, que pode ser impulsionado ainda mais com a ampliação da coleta seletiva do lixo.
São pequenos empreendedores espalhados de Norte a Sul do país que se instalam para reciclar o plástico e revender. A pesquisa da Plastivida mostra que em 2007 foram recicladas 780 mil toneladas de plástico contra apenas 492 mil em 2003. Uma taxa de crescimento anual de 14,6%. No mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 3,4%. O preço médio de venda por tonelada para a indústria após o reprocessamento saltou de R$ 1.749 para R$ 2.644 no mesmo período. Sinal de lucratividade do negócio que surfa na onda do desenvolvimento sustentável com respeito ao meio ambiente.
Francisco de Assis Esmeraldo, presidente do Plastivida, está otimista com o crescimento da reciclagem mecânica de plástico no Brasil, cuja taxa média de 21% do consumo pode ser comparada à média de 18,5% da União Européia. Ele aponta alguns fatores que contribuem para boom do setor. Primeiro, a redução dos custos de produção na indústria de bens semiduráveis e duráveis. O plástico reciclado fica entre 5% e 15% mais barato do que o plástico virgem. A qualidade entre o virgem e o reciclado é igual. Outro diferencial é a qualidade e técnica mais apurada usada pelas indústrias de reciclagem de material plástico. "Uma prova é que a indústria automotiva e de eletroletrônicos já começa a usar o reciclado", cita.
Em Pernambuco, a Frompet Indústria e Comércio Importação e Exportação entrou no mercado de reciclagem de plástico há cinco anos. Reprocessa mais de 1.000 toneladas de plástico por mês, o que equivale ao faturamento de cerca de R$ 1 milhão. A empresa prioriza as garrafas de PET e compra o produto das cooperativas e associações de catadores de lixo. A diretora sócio-ambiental da empresa, Maria Botelho, coordena as ações de apoio aos catadores, através da doação de equipamentos e da formação de mão-de-obra. Segundo ela já foram doadas doze prensas - equipamento fundamental para a prensagem do plástico usado - e são oferecidos cursos de capacitação.
Maioria de mulheres
Além dos empregos formais, a cadeia da reciclagem gera emprego e renda para os catadores. Em todo o país são 550 mil e perto de 6 mil na Região Metropolitana do Recife (RMR) que tiram o sustento do lixo. Na cooperativa dos catadores profissionais do Recife (Pró Recife), 41 pessoas, majoritariamente mulheres, sobrevivem da renda que ganha com a venda dos produtos para reciclagem. O trabalho durante oito horas no galpão onde é separado o lixo coletado nas ruas e prédios da Zona Sul da cidade é duro, mas gratificante. Para quem está desempregado, a renda mensal entre R$ 350 e R$ 415 é bem-vinda.
Ainda mais quando é dada a oportunidade que pode mudar uma vida. É o caso da catadora Edvânia de Souza Andrade, 19 anos, que terminou o ensino médio e conseguiu uma bolsa para fazer vestibular e cursar administração numa faculdade privada. "É a chance da minha vida. Estava procurando emprego e conheci uma pessoa na rua que me chamou para trabalhar aqui. Estou satisfeita", diz. "Na rua é dureza, mas vale a pena porque consegui o meu objetivo que é estudar", comemora. O presidente da cooperativa, José Cardoso, explica que a bolsa é uma doação de uma instituição para apoiar a qualificação dos catadores.
Roberta Pessoa tem 34 anos e desde os sete trabalha como catadora. Ela conta que no começo foi difícil porque os catadores vendiam para os atravessadores e ganhavam pouco. Agora sem a intermediação - a cooperativa vende direto às fábricas - a renda dos catadores melhorou.
Chefe de família, Maria José da Silva, 27 anos entrou na cooperativa depois que ficou desempregada há dois anos não conseguia trabalho. Com três filhos para criar, ela decidiu ser catadora. Dependendo do movimento e das venda Maria José tira por semana entre R$ 50 e R$ 100. "Gosto do que faço aqui. Separo o material e levo para a prensa, mas também vou para a rua. Dá para sustentar os meus filhos", diz.
Reciclagem de plásticos
São 780 empresas recicladorasR$ 1,8 bilhão é o faturamento bruto
R$ 2.644 é o preço médio de venda por tonelada
1,5 milhão de toneladas é a capacidade instalada
20 mil postos de trabalho diretos
962.566 toneladas são recicladas
Sudeste lidera com 577.540 toneladas (60%)
Nordeste vem em terceiro com 115.508 toneladas (12%)
14,6% é a taxa de crescimento anual da indústria
Dos 5.564 municípios somente 7% contam com coleta seletiva
Fonte - Pesquisa Monitoramento dos Índices de Reciclagem de Plástico/Plastivida